segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Valeu (e vale) a pena: EUNÓIA, de Eduardo Ferreira

(Texto publicado no site Overmundo/ Blog do Prof. Fábio Fernandes)

Fábio Fernandes, São Paulo (SP) · 22/1/2007 09:27




Rosa gerou Leminski que gerou Eduardo Ferreira.

Eu poderia simplesmente ficar na frase acima. Mas, além de não ser justo (nem com vocês nem com Eduardo, nosso overmano), fugiria por completo ao objetivo deste blog, que é falar de livros, falar pelos livros, falar de livros que fazem a minha cabeça e - espero - façam a de vocês também.

é DEFINITIVAMENTE o caso de EUNÓIA. Na capa está grafado em minúsculas, como o poeta americano e.e.cummings grafava seu próprio nome, mas aqui coloco em maiúsculas para aumentar, maiuscular, muscular esse livro, muscular mesmo, hein? Como cummings? Como, como sim senhores! E também como Haroldo, como Paulo Leminski, como Guimarães Rosa.

Mas alguns poderão me dizer: devagar com o andor, Fábio, não pega nem bem você puxar o saco do colega assim. É verdade: mas o que é que eu posso fazer se o livro é bom? Notem, botem reparo: quando digo que Eduardo Ferreira é como cummings, Rosa, Lema, em verdade, em verdade vos digo: Edu pertence a uma honrosa tradição de prosadores/tradutores/traidores da língua, que a torcem e a trabalham a seu bel-prazer para que ela se faça mais aberta e presente. E que prazer o Edu tem em manipular a língua senhores e senhoras! Ler EUNÓIA é como deixar rolar sacanamente entre os dentes e a língua um drops, só que o drops é na cabeça, onde as idéias rolam como aluvião, mas um aluvião que nunca erode (nem fode) a nossa cabeça, mas detona os nossos preconceitos lingüísticos. O Edu é um sacaneta: um belo dum anarquista literário.

Em EUNÓIA poesia e prosa se fundem, se confundem, se difundem; esse livro é um cadinho de alquimista; preservando o trocadilho, tem um "cadinho" de cada coisa ali, sabem? Enfim, não dá pra contar a história porque história não tem, ou melhor, até tem sim, a história suja de um noiado, de um homem que passa kafkianamente os dias trancado dentro de um cubículo olhando o que há (ou não) do lado de fora pelo olho mágico. Suas indagações e indignações dão origem a uma prosa convoluta, quase-barroca, totalmente-barrela, uma coisa, por assim dizer, louca. E danada de boa.

Mas, ao contrário do que diz o protagonista na abertura do capítulo IX, não temo não sair vivo dessa história, em momento nenhum temi isso. O que temi era esquecer as palavras, que precisavam ficar gravadas a ferro e fogo na minha cabeça, entrar pelos sete buracos e ali ficar, não letras mortas, mas ferros em brasa. EUNÓIA não é Deus de Caim (outro livro que comentarei em breve aqui), mas quem for ler esse livro do Eduardo que se acautele: vai ficar com a Marca. A marca maldita que se imprime sobre os olhos e a mente de todo aquele que lê o Verbo bem temperado, cravos enterrados na carne, pronóias, ora pro nobis, ora bolas.

Repito: Rosa gerou Leminski que gerou Eduardo Ferreira. Só espero em Deus fazer parte dessa genealogia/genial-logia um dia.

tags: literatura eduardo-ferreira eunoia fabio-fernandes

na falta do que dizer, eis que, (ab)surdo e mudo

cada sujeito oculto é sombra de si mesmo.
ensimesmado. abestado. atarantado.

isso é só uma impressão.
off set ou fotocopiadora.
não importa a sua técnica.

craque é aquele que não fala e faz.
o gol decisivo.
nos últimos segundos da prorrogação.

assim se
deci
de
um campeão

ou será
um campeonato?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

o demônio surgiu na manhã

a pomba girou na manhã cinzenta fria com seus olhos injetados de fogo de eras vestida de vermelho na mini crackolândia de cuiabá na beira da rodoviária: - sou o demônio! berrou e riu com escárnio tudo muito claro tudo muito cinzas nas narinas pequeninas da américa latrina.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

pod(r)eres

descendo a avenida miguel sutil dizia para minha filha agora poucos minutos atrás o poder é contra revolucionário por princípio então devemos quebrar as hierarquias que definem o poder de mando de escolhas de direções então se estamos juntos a um movimento social só devemos estar com ele até o momento em que desejem hegemonizar sua forças e mandar a mão de ferro e desmandar a desmesurar perder as medidas então quando chega-se a esse ponto é hora de partir quebrar vazar e buscar outra turma aqueles que ainda não estão na zona de poder que estão no horizonte do poder. que deve ser sempre o próprio horizonte. esse é o nosso anti princípio anti.

ferreira, meu caro, você está sendo muito sutil.

porra nenhuma, responde o velho ferro, sutil é o Miguel.

risos. risos.

fecha cortina.

é fogo! (série: manhãs caprichosas.)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

afazia

um hiato entre uma publicação e outra.
tempo, tempo. matéria amorfa, insaciável. sinto-me moído, vítima de mastigação.

estranha sensação de inutilidade da matéria gente.
da palavra matéria. da materialidade das coisas.

da inutilidade da arte, nem falo.
penso.
inutilmente, penso.

logo desisto.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

canto escuro

estou nesse lugar incompreendido.
no centro da rinha.
frágil e sem saber com quem lutar.
os nervos trêmulos de suprema covardia.
escondendo a própria sombra.
cego de claridades.
finjo existências afazeres tarefas intermitentes para evitar o confronto com minha feiúra.
quem quer saber?
nada é tão importante
quanto o vazio
o vaso se quebrou
encanto voou
desgaiolado treslocado andando ao lado dos passos esparsos e tímidos da sombra arredia.
vadia. penso.
insisto. vadia.
desisto.
logo ali tem um beco escuro.
vou deitar nas sombras.
não quero mais saber de sonhar.

sábado, 9 de janeiro de 2010

sujeito oculto

um tiro seco no ar.
arfar.arfa arfa arfa.
ar não entra,
também sai não.
ar de respirações perdidas.
como reencontrar?
recombinar encontros
perdidos.
como recompor
canções para sem
pre escondidas
meio a escombros.

não sei se dou de
ombros.
sinto dores vazias
de compreensões.

maldita pressão
explode diarréia
coração
vômito.

atônito
fecho o livro.

durmo nas para
lelas.

turista acidental

afinal
aqui
é
quito
ou
quioto!?

antonio sodré (poeta transmutacional)

pequenina ode aos automóveis

na selva de pedra
os tigres são de aço

(antonio sodré - el poeta de la transmutación)

sem título

saiu e se foi...
atrás do boi...

(antonio sodré - o poeta da transmutação)

transplante de cérebro

antes que eu me enlouqueça
tô trocando de cabeça

(antonio sodré - o poeta da transmutação))

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

quanto vale um sonho?

o vendedor
de sonhos
sentado
na calçada
vendia
tão triste(s)
os sonhos
que a mesa
adornava