Ela acorda e
diz como todo dia, faça isso, faça aquilo, viro-me para o lado de lá e deixo a
preguiça me levar. Daqui a pouco tenho que saltar para a porra da vida que me
chama. Ela me empurra para fora de casa. Se manda vagabundo. Vai trabalhar.
Hoje saí e
deixei o acaso esculhambar tudo. Foda-se o trabalho. Vou rodar por aí. O
asfalto estava quente, dava para sentir o bafo da janela do carro. O som rolava
e me provocava uma sensação louca, como se estivesse dentro de um filme.
Protagonista. Um zero a 80 km por hora numa free wai. vagando a esmo,
desconectado da Grande máquina que move o mundo. Burocracias e desarranjos.
Homens escravizados pela repetição mecânica dos fétidos escritórios fedendo a
peidos modorrentos dos funcionários públicos.
O carro
desliza. Auto pistas de um instante cheio de atalhos e desvios. Rotas do acaso.