quarta-feira, 6 de abril de 2011

resenha res publica eu publico eu nóio

resenha res publica eu publico eu nóio

eu? eu nóia
sss acidadez acidez
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Viktor Chagas · Rio de Janeiro, RJ
7/1/2007 · 277 · 35

joyce fajuto. eu nóio tu nóias ele nóia. achei o livro bacana. uma capa preta, parece luto. coisa de quem perdeu parente próximo. coisa de quem tá noiado. luto é coisa de viado, diz o subconsciente crumbiano-chauvinista. macho que é macho não fica de luto, macho que é macho tem que estar na luta. na labuta. work in progress. ordem e progresso é o que vem na cabeça. puta slogan positivista. que ordem e progresso que nada. o negócio é todo em fluxo de consciência.

eu não sou bom com essa porra de fluxo de consciência. fico caprichando demais. pra ser fluxo não pode relar. se relar muito, a coisa mela. e escrever no computador exige um fluxo danado, porque o raciocínio de corte e cola não me deixa sair escrevendo ao deus-dará. corte e cola corta a nossa asa. acho que eu tou inclusive botando ponto demais. o eduardo não põe tanto ponto assim ele sabe escrever em fluxo melhor que eu. e isso não é um pensamento tipicamente competitivo não sou desses é só uma constatação. mas o eduardo também sabe que corte-e-cola fode a nossa mente. ele diz lá no eu nóia que escrever isso aqui é um papel de sísifo. se é trabalho de sísifo, penso eu com meus botões (que porra de fluxo é essa que eu fico teimando em botar discurso direto?), não é fluxo que nada. é tudo palhaçada. tudo nóia da cabeça do cara. ele fica dizendo que é eduardo pra dizer que o personagem é ele. eu não caio nessa. basta ver a mulher do eduardo. a mulher do eduardo não é a rosália, é a dona louca.

será que ele muda de mulher quando escreve? se for assim com ele, quero fazer troca de casais literários. eu escrevo sobre a genoveva imaginária e ele me manda a rosália. porque, afinal de contas, escrita livre é igual fluxo menstrual. se bem que tem menstruação que cai em placas, não é? não sou mulherzinha, mas sei dessas coisas. menstruação deve ser bem parecido com hemorróida, só que sem dor. escrever em fluxo como diz o eduardo deve ser bem parecido com menstruação, só que sem sangue. se bem que às vezes tem sangue sim. e, no meu caso, que sou canhoto, independente de ter sangue ou não, sempre suja a mão. é que a tinta vai borrando do anular até o mindinho conforme a linha vai chegando ao fim. acho que a gente tinha tudo que escrever em hebraico escrever que nem o leonardo da vinci. essa coisa de manchar a mão é uma sacanagem com canhoto. aliás qualquer sala de aula é uma sacanagem com canhoto, eu nunca encontro lugar pra escrever sem ficar torto. deve ser por isso que destro é direito. e é por isso que eu gosto do computador. não preciso ficar caraminholando com medo da tinta no anular. que a tinta não vai anular patavina do que eu tou escrevendo. não borroco porra nenhuma. só tem esse lance do corte-e-cola que estraga meu raciocínio.

quando paro pra escrever à mão, fico procurando a tesourinha pra jogar uma palavra do início pro final do parágrafo. é uma coisa meio minority report que eu guardo comigo. moleskine versus palmtop. eu não bebo cerveja, não fumo maconha, não pico, mas fico na nóia. eu nóia. todo mundo tem direito a uma de vez em quando.

é. eu tava querendo mesmo voltar ao assunto desse meu palavrório. me perco nesse negócio de fluxo. eu sou muito capricórnio pra deixar a coisa fluir, sabe? se flui muito, eu nóio. corto logo o barato. decepo. que nem machado de assis.

pra mim romance tem que ter pé e cabeça. vai ver é complexo de édipo mas não consigo pensar de outro jeito. coisa muito encriptada me dá no nervo. me dá no saco. e qualquer coisa que dá no saco, ou é espermatozóide ou dói pra caramba. essa coisa de escreveu não leu o pau comeu é muito erótica, muita sacanagem. só não é pior do que o que fazem com os canhotos. eu sou canhoto e sou realista. papo de modernista pra mim é papo-cabeça. romance pra mim tem que ter pé e cabeça.

discurso direto
indireto
ironia
sarcasmo
indireta

ficar escrevendo monologando não tem paciência que agüente. porra nenhuma acontece. fica o mundo girando em volta do meu bigo. uma figa. mas, olha, eduardo, isso não é nem crítica. não é destrutiva, nem construtiva, é só o meu jeitão noiado. cada um com o seu cada qual, entende? eduardo? se eu tou aqui esse tempo todo falando sozinho pra fingir o meu fluxo de consciência não era pra ter vocativado o eduardo. ato falho. aliás tudo o que eu falo é ato falho, desde o joyce até o aqui (e de repente pra depois também). difícil demais escrever esse negócio, girando como um pião sem saída.

não ia falar nada. ia ficar calado. mas aí veio a falta do que fazer depois do fim de ano. veio o amigo que levou o suassuna que eu comprei embora enquanto eu estava na metade, veio o final do martin page, e eu falei, se não for agora, não vai ser nunca. o martin page ajudou. peguei o livro do eduardo e comecei a ler sem compromisso. sem compromisso de terminar, de começar, dele saber que eu tou lendo. não quis nem saber. peguei a porra do livro e falei, se não for agora, não vai ser nunca. não vou dizer quando tempo levei porque tenho vergonha. leio lerdo. leio lerdo. fica um eco na minha cabeça me culpando. eu sou igual o menininho do sexto sentido. ouço vozes. leio lerdo. e parece que na cidade grande ninguém respeita o silêncio dos outros. vem o vendedor de bala e diz que o goiabinha da bauducco é um real, vem o maluco surfista e fala pro trocador que pegou a menininha do pedro segundo, vem a mulher gorda do meu lado e se esparrama pra ocupar o banco inteiro. tá, ela não fala nada. mas incomoda como se falasse. e tem o garotinho no colo da mãe no banco detrás mastigando o goiabinha da bauducco. nhec nham nhec nham quando leio alguma coisa no ônibus qualquer onomatopéia me dispersa. senhores passageiros, primeiramente desculpe interromper o silêncio da sua viagem. e o pior é que eu só leio em ônibus. menor paciência para sentar numa poltrona em casa, no meu metro e meio, e danar a ler hora e meia sem parar.

o tempo não pára. chavão cazuza. cazuza morreu cedo demais. e cazuza inevitavelmente me lembra mato grosso. rio à beça quando o eduardo fala dos cuiabanos. a única palavra que começa e termina com sinônimos de bunda. tem que ter culhão pra falar uma coisa dessas. mas macho que é macho tem que ser malzin. 138 páginas de pura malignidade. mas a letra é grande, dá pra ler rápido. leio lerdo. já tá anoitecendo e eu aqui nessa nóia de escrever alguma coisa sobre o eu nóia. já vão quase 24 horas. mais as 48 de edição. 48 de votação. o temor de não ser votado. temo não sair vivo dessa história. mas se não sair, crio asas e saio escrevendo. saio voando que nem ícaro em dia de lua cheia. que nem cobra com asa. azar. a única coisa que não faço nesse meu relato é relar em mais nada. tá tudo em cuspidez. tudo saindo sem dar tempo pra pensar.

tinha uma antiga piada de criança que dizia que deus organizou uma competição entre um brasileiro, um português e um americano pra descobrir qual a coisa mais rápida do mundo. o português nem pestanejou e falou que era a porta: só encostar e ela já fecha. o americano todo tecnológico falava que era a luz, porque ele apertava o interruptor e a luz acendia, num piscar de olho. veio o brasileiro pra ganhar a copa e falou que a coisa mais rápida era a caganeira, porque não dá tempo de fechar a porta nem de acender a luz.

caganeira é como escrever em fluxo de consciência. mas joyce não pariu o finnegans numa diarréia só. fico noiado é com isso. se escrita livre é deixar a coisa se escrever sozinha, onde ponho a minha mão? escrita livre pra mim combina com o overmundo. tem a cara do overmundo. só não digo que tem o cheiro do overmundo porque acabei de comparar a escrita livre com uma caganeira e o overmundo é mais cheirosim. e o que tem de cuiabanos no overmundo não tá no gibi. se é gibi, põe no banco de cultura! eduardo, taca o eu nóia aqui, pô. foi a minha primeira reação. já tá tudo em criei tive como. mas o cara que sabe. foi ele que fabrikou o livro. só tou aqui tentando desenhar uma resenha nessa tarde abafada. a terceira resenha dele aqui nesse cantinho. mas eu não dresisti. é presente de natal. presente que nada. isso aqui não vale a passagem. não vale o sedex. dura lex sed lex. resenha esquisita que só. mas resenha resumidamente eu renego. nunca vi resenha escrita livre. texto de jornalista tem sempre um monte de amarra. por isso não me amarro em ser jornalista. profissãozinha do demo. eu sou mesmo é escritor autônomo. que nem o joyce. que nem o eduardo. mas com menos talento.

vem o cazuza de novo piscando na minha cabeça. já tá tarde. já tá tarde. temo não sair vivo dessa história. 8.482 caracteres até agora.

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